Lembrou-se de ser feliz e decidiu conquistar o mundo. Mas mesmo depois de ter montes e vales e tesouros perdidos continuava vazio como antes. Tinha tudo e não tinha nada. Faltava-lhe alguma coisa… um sorriso e um olhar mais belo e profundo do que o resto do mundo que detinha nas suas mãos. Procurou-o por toda a parte mas sempre soube onde o encontrar, apenas tinha medo de não receber em troca do seu mundo o sorriso e o sentimento que tanto queria.
Ela era feliz. Feliz à sua maneira, mas feliz. E o seu sorriso não valia o mundo e os seus tesouros, como ele pensava. E não entendia como é que alguém tão astuto e inteligente não conseguia perceber que para ter o seu sorriso bastava apenas sorrir também.
Mas agora nada há a fazer senão esperar. Esperar pela manhã em que acordarão com os pensamentos demasiados perdidos um no outro, sem conseguir resistir mais ao sentimento que chama por eles.
Ela era feliz. Feliz à sua maneira, mas feliz. E o seu sorriso não valia o mundo e os seus tesouros, como ele pensava. E não entendia como é que alguém tão astuto e inteligente não conseguia perceber que para ter o seu sorriso bastava apenas sorrir também.
Mas agora nada há a fazer senão esperar. Esperar pela manhã em que acordarão com os pensamentos demasiados perdidos um no outro, sem conseguir resistir mais ao sentimento que chama por eles.
1 Comments:
Não consigo dormir. Estou a fumar cigarros atrás uns dos outros. Apenas o silêncio. São quase 4h e lá fora não há ruídos. Não há vento que incomode as cortinas, não há carros e nem sequer há lua. Só as janelas de P. com as luzes acesas. Vejo-a a dormir encolhida com um caderno acordado nas mãos. Na minha casa não tenho uma televisão para a poder ligar com o volume baixo. Tenho um rádio mas não me apetece música. Penso aquecer um pouco de chá ou um pouco de leite e tomá-lo. Há uns tempos costumava ter uma garrafa de vodka no gelo, mas já me deixei disso. Foi uma fase. No gelo só guardo cubos de água. Agora prefiro chá ou leite. A vodka trazia-me a sede e as noites compridas o corpo cansado e somente o desejo de dormir longamente. E um acordar remoto que fazia-me suar no trabalho. Estou cansado da falta de sono. Há poucos dias um amigo falava-me do medo do sono. Disse-me ele que se sentia infinitamente e conscientemente sozinho quando tinha a certeza que a sua mulher dormia, deitada no seu lado da cama. Ridículo – disse-me. Lembro-me de ter pensado que há uns anos, quando descobri que a E. andava com outro, não me levantei da cama durante dias seguidos. Não me lembro bem quanto tempo. Lembro-me de que saía para ir comprar cigarros. Estremecia quando estava acordado. Mas acabou por passar e o chá já está quente, apago a luz da cozinha e o meu cão preto acompanha-me. Sento-me na cadeira e ele suspira e deita-se ao meu lado. Tenho que ir despejar os cinzeiros. O meu avô costumava olhar-me desdenhoso quando nos almoços familiares eu culpava os fumadores. Brincamos, não? dizia-me, – Os que começam tarde são os piores. Anos mais tarde enlouqueceu, olhava-me vazio e perguntava-me o meu nome. Morreu entretanto e eu costumo levar-lhe um cravo à gaveta 3250. Estou de pé e olho lá para fora para os candeeiros acesos. Talvez eles sejam como eu. Vou escolher um livro ao acaso e levá-lo para a cama. A falta de sono exaspera-me. O meu cão dorme com o focinho entre as patas sobre a t-shirt dela. Tu tens a tua relação com ela e eu tenho a minha – penso, - baza daí de cima. Seria bom poder dormir, mas agora, para quê? Daqui a pouco haverá movimento no prédio e na rua. Não tarda que o despertador interno dela lhe dê sinal e ela acorde com o caderno ainda na mão, perturbada por os hábitos teimarem, desorientada porque o que temia acontecer aconteceu. E eu esperarei acordado pelo amanhecer, pelo acordar dos pássaros, sentado sobre a cama com a t-shirt dela a meu lado e fechando os olhos, abraça-la-ei.
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