domingo, novembro 04, 2007

Lembrou-se de ser feliz e decidiu conquistar o mundo. Mas mesmo depois de ter montes e vales e tesouros perdidos continuava vazio como antes. Tinha tudo e não tinha nada. Faltava-lhe alguma coisa… um sorriso e um olhar mais belo e profundo do que o resto do mundo que detinha nas suas mãos. Procurou-o por toda a parte mas sempre soube onde o encontrar, apenas tinha medo de não receber em troca do seu mundo o sorriso e o sentimento que tanto queria.

Ela era feliz. Feliz à sua maneira, mas feliz. E o seu sorriso não valia o mundo e os seus tesouros, como ele pensava. E não entendia como é que alguém tão astuto e inteligente não conseguia perceber que para ter o seu sorriso bastava apenas sorrir também.

Mas agora nada há a fazer senão esperar. Esperar pela manhã em que acordarão com os pensamentos demasiados perdidos um no outro, sem conseguir resistir mais ao sentimento que chama por eles.

1 Comments:

At 10 novembro, 2007 03:56, Anonymous Anónimo said...

Não consigo dormir. Estou a fumar cigarros atrás uns dos outros. Apenas o silêncio. São quase 4h e lá fora não há ruídos. Não há vento que incomode as cortinas, não há carros e nem sequer há lua. Só as janelas de P. com as luzes acesas. Vejo-a a dormir encolhida com um caderno acordado nas mãos. Na minha casa não tenho uma televisão para a poder ligar com o volume baixo. Tenho um rádio mas não me apetece música. Penso aquecer um pouco de chá ou um pouco de leite e tomá-lo. Há uns tempos costumava ter uma garrafa de vodka no gelo, mas já me deixei disso. Foi uma fase. No gelo só guardo cubos de água. Agora prefiro chá ou leite. A vodka trazia-me a sede e as noites compridas o corpo cansado e somente o desejo de dormir longamente. E um acordar remoto que fazia-me suar no trabalho. Estou cansado da falta de sono. Há poucos dias um amigo falava-me do medo do sono. Disse-me ele que se sentia infinitamente e conscientemente sozinho quando tinha a certeza que a sua mulher dormia, deitada no seu lado da cama. Ridículo – disse-me. Lembro-me de ter pensado que há uns anos, quando descobri que a E. andava com outro, não me levantei da cama durante dias seguidos. Não me lembro bem quanto tempo. Lembro-me de que saía para ir comprar cigarros. Estremecia quando estava acordado. Mas acabou por passar e o chá já está quente, apago a luz da cozinha e o meu cão preto acompanha-me. Sento-me na cadeira e ele suspira e deita-se ao meu lado. Tenho que ir despejar os cinzeiros. O meu avô costumava olhar-me desdenhoso quando nos almoços familiares eu culpava os fumadores. Brincamos, não? dizia-me, – Os que começam tarde são os piores. Anos mais tarde enlouqueceu, olhava-me vazio e perguntava-me o meu nome. Morreu entretanto e eu costumo levar-lhe um cravo à gaveta 3250. Estou de pé e olho lá para fora para os candeeiros acesos. Talvez eles sejam como eu. Vou escolher um livro ao acaso e levá-lo para a cama. A falta de sono exaspera-me. O meu cão dorme com o focinho entre as patas sobre a t-shirt dela. Tu tens a tua relação com ela e eu tenho a minha – penso, - baza daí de cima. Seria bom poder dormir, mas agora, para quê? Daqui a pouco haverá movimento no prédio e na rua. Não tarda que o despertador interno dela lhe dê sinal e ela acorde com o caderno ainda na mão, perturbada por os hábitos teimarem, desorientada porque o que temia acontecer aconteceu. E eu esperarei acordado pelo amanhecer, pelo acordar dos pássaros, sentado sobre a cama com a t-shirt dela a meu lado e fechando os olhos, abraça-la-ei.

 

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