Ao acordar, pela manhã, espreitou pela janela e tudo lhe pareceu mais brilhante e colorido. A felicidade é mesmo de nos deixar assim, tontos e perdidos nas lembranças e nos desejos...
[Sorriso parvo e olhar sonhador =$]
Parte I
Encostada à parede do chuveiro, deixou-se escorregar para o chão e ficou assim a sentir a água cair-lhe no corpo. Era uma sensação agradável, já poucas coisas a faziam sentir-se assim viva. A juventude ficou para trás e com ela os amigos foram-se perdendo. Lisboa foi substituída por um outro lugar, da faculdade nem se fala. Já não havia mais diversão como no tempo das praxes ou aquelas tardes passadas de loja em loja a rir com as amigas e a andar nos carrinhos de choque como crianças pequenas. O curso acabou e o trabalho foi demais e demasiado longe de casa para aguentar aquelas amizades tão preciosas. O namorado trocou-a por um qualquer trabalho fora do país e agora não havia nada mais do que os pacientes de quem tomava conta naquele hospital onde era enfermeira fazia agora cinco longos anos. Longos demais para uma pessoa ainda tão jovem exteriormente. Por dentro sentia-se velha e cansada. Precisava de voltar aos velhos tempos, às gargalhadas, à diversão…
Os colegas de trabalho tinham vida própria, mal olhavam uns para os outros e não era isto que ela queria para a sua vida. Ela e as amigas tinham sonhado um dia abrir uma loja no Bairro Alto, divertir-se a vida toda, serem amigas para sempre no matter what! E tinha acontecido precisamente o contrário. Parece que toda a gente se agarrou à profissão que escolheram quando acabaram os seus cursos. E era isso que esperavam de nós, era isso que ia dar estabilidade e segurança às nossas vidas. Abrir uma loja ou um bar ou o que quer que fosse era arriscado demais para pessoas novas como nós éramos e inconscientes dos riscos que corríamos. Mas tínhamos tudo para dar certo, só que os outros não sabiam…
Agora, sentada no sofá da sua casa solitária, onde até o seu gato a abandonou ao morrer um dia, velho e cansado, mostrando-lhe que seria isso que iria acabar por lhe acontecer também um dia, revive memórias dos seus dias felizes. E no meio das cartas e dos postais das amigas, de quando ainda se falavam, no meio das agendas, das fotos e do álbum que fizeram na faculdade, sente que ainda não é tarde para voltar a ser feliz. Então decide começar a escrever
“Querida Sofia,”.
(Continua um dia destes e acaba com final feliz.)
[Gosto bué de vocês =)]
“Não mereces ser feliz José. Não mereces porque eu não quero, não mereces porque sou má demais para querer que sejas feliz. Não mereces ser feliz, não mereces conhecer as coisas boas da vida.”
“Porquê?”
“Porquê? Porquê, perguntas tu? Porque tu não sabes amar. E isso eu não consigo suportar. Não consigo suportar alguém que não sabe amar!”
“Não, não sou eu que não sei amar. Tu é que não sabes.”
“Como é que te atreves?”
“Se soubesses o que é amar, percebias que te amo.”
E com isto o José calou a Teresa e virou-lhes as costas.
[Afinal não é preciso ter o mundo para ser feliz.
Basta saber ver as entrelinhas.]